Entrevista exclusiva com Anícia Pio, da Fiesp
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“A indústria é protagonista desse novo modelo”
Seis em cada dez indústrias brasileiras já adotam práticas de economia circular, revela uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresentada durante o 9º Fórum Mundial de Economia Circular, realizado pela primeira vez no Brasil, em São Paulo. E, para inspirar ainda mais o setor, a CNI e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) lançaram um e-book com as melhores práticas sobre o tema. Em seu relatório, a confederação cita um dado da McKinsey de que a implementação de práticas circulares nas organizações pode reduzir os custos de produção em até 20% e aumentar a receita em até 15%. São números que certamente explicam o interesse pelo assunto, mas não estão sozinhos.
O tema está quente, e, por isso, conversamos com Anícia Pio, gerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para entender melhor esse movimento.
A entrevista exclusiva você encontra nesta edição da Vozes do mercado, logo abaixo.
Boa leitura!
Pingue-pongue
Anícia Pio
Gerente do Departamento
de Desenvolvimento
Sustentável da Fiesp
Indústria em movimento: Podemos começar explicando o que é a economia circular nesse contexto da indústria? É mais do que a reciclagem, certo?
Anícia Pio:
Economia circular é, em primeiro lugar, um conceito, um modelo econômico. Pensando em modelo de produção, desde a Revolução Industrial, nós temos a chamada economia linear: em um processo industrial para produzir um determinado bem, eu uso matéria-prima, energia, água; faço a transformação dessa matéria-prima, coloco esse bem no mercado, o consumidor final vai consumir esse bem de acordo com sua necessidade e, depois, acaba descartando no fim da vida útil dele. Esse sistema precisa ser revolucionado, porque a matéria-prima vai escasseando e se tornando mais cara. Além da mudança climática, que acelera essa mudança, porque eu preciso fazer uma transição para uma economia de baixo carbono. Está tudo interligado. Eu tenho que começar a pensar em como é que eu vou me independer da matéria-prima, principalmente de fonte fóssil. E aí entra o modelo circular. Por isso, dizemos que a produção linear está com os dias contados, porque eu não posso mais me dar ao luxo de simplesmente descartar coisas que têm valor.
Indústria em movimento: Então é uma questão tanto de reduzir impacto ambiental quanto de controlar custos.
AP:
Exato. A economia circular tem um ganho ambiental, porque vou reduzir tanto do lado da origem da matéria-prima, do berço... e não tem mais túmulo, né? Acabou o túmulo. Precisa renascer como outra coisa. Aquele mineral, aquela molécula, aquele produto que teria um fim de vida num local inadequado, criando poluição ambiental, não pode mais existir. Eu preciso reaproveitar e reinserir na cadeia produtiva.  Então, além de reduzir o impacto na extração desses produtos na natureza, eu reduzo o impacto no descarte, que é custo também.
Frase de destaque de Anícia Pio
Indústria em movimento: O conceito não é novo para o setor, então. A questão é que, agora, a escassez das matérias-primas está mais crítica?
AP:
Exatamente. A indústria é protagonista desse novo modelo, porque nós somos a indústria da transformação. São dois drivers: a descarbonização e o custo. Até então, era mais barato eu pegar a matéria-prima virgem do que processar alguma coisa. A partir do momento que esse custo começa a pesar na balança, eu vou pensar em reincorporar aquilo no meu processo. Não é uma novidade para o setor industrial, porém ela vem agora com muito mais força, de forma estruturada. Hoje, nós temos política pública, no mundo todo, instituindo e organizando esse novo modelo econômico.
Indústria em movimento: E o que, na prática, vai além da reciclagem?
AP:
Um exemplo que acho bacana para as pessoas entenderem é o produto como serviço. Pensa em um filtro de água. Você tinha o filtro de barro. Mas o que a pessoa precisa é beber água potável; esse é o bem. Então, hoje, empresas estão fazendo um contrato de fornecimento de água potável, uma assinatura mensal. Por que isso é importante na economia circular? Porque os componentes do produto têm uma vida útil. O que acontece quando a empresa não te vende o filtro, mas presta o serviço? Ela vai querer que aquele filtro dure o maior tempo possível, porque, quando quebrar alguma coisa, vai ser custo para ela. A indústria vai buscar produzir bens que durem o maior tempo possível. Vai consumir menos água, menos energia, utilizar menos transporte. Então o produto como serviço é uma boa e importante prática de economia circular. Outro componente importante é o design do produto e da embalagem pensando no pós-vida-útil: é fundamental viabilizar a reinserção dele no ciclo. E outro ponto importante é o consumidor final, que precisa incorporar esses conceitos, para destinar corretamente e fechar o ciclo. Mas a reciclagem é um pedacinho no fim desse ciclo; ela não é a economia circular. A gente quis também mostrar que a economia circular, além de ser um modelo ganha-ganha, promove muito a inovação. Toda a sociedade, a indústria e a inovação científica estão muito presentes por essa necessidade de substituir matéria-prima, buscar novas fontes, novas alternativas.
Giro rápido
A indústria é protagonista porque somos nós que fornecemos os bens para os demais setores modernizarem, somos nós que estamos no coração do sistema. E a gente se orgulha disso."
Indústria em movimento: Quais os desafios para a implementação?
AP:
Um dos gargalos, sem dúvida nenhuma, é o financeiro. Essas práticas precisam ser fomentadas e financiadas, e, por isso, a Estratégia e o Plano Nacional de Economia Circular são importantes, porque dão uma sinalização pública para a indústria e para o setor financeiro. O segundo gargalo é a tributação. Como vou incentivar a usar o vidro reciclado se custa mais caro que a matéria-prima virgem? Além disso, tem a logística, o custo e o impacto ambiental do transporte.
Indústria em movimento: Como a indústria pode identificar oportunidades em seu processo para se adequar a esse modelo?
AP:
Esse foi o objetivo do nosso lançamento das boas práticas: inspirar, levar essa consciência de uma agenda positiva. Um insumo essencial é a água. Então, pensa primeiro no uso eficiente dela. Será que consegue usar fontes alternativas? Captar água de chuva? Segregar essa água e fechar o circuito? Muitas vezes são ações simples, como instalar um sensor. O resíduo do teu processo pode ser matéria-prima para outra indústria? É ter esse olhar da economia circular dentro da fábrica, investir no teu design, no teu processo. A gente entende que é um caminho sem volta, um círculo virtuoso, onde nada se perde.
Para saber mais
Acesse a página da Fiesp com materiais completos sobre economia circular.
 
Confira a cobertura completa do Fórum feita pela Agência de notícias da indústria, da CNI.
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